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Mostrando postagens de setembro, 2020

Fruto

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Caminhando, pensei na alegria de conhecer as palavras de Daniel Faria (1971-1999). Lendo-o, parece mesmo que eu não o conhecia de agora. Que nasci junto com ele. E também que ele, ao morrer, leva-me junto. E eu tinha apenas 7 anos. Ao caminhar, pensei também nas pessoas que abandonam a vida. Se tivesse de abandonar a minha, seria justamente por não suportar mais que o conhecimento não é medida de nosso sucesso, mas a medida de nosso fracasso. Certamente, Deus permitiu que eu chegasse a essa conclusão. Certamente ele grava, com leveza e, às vezes, com brutalidade, essa grande verdade em mim. Nos dias em que me sinto leve diante da vida e do conhecimento, ouso rir, viajar, na mente, pelas facilidades alienadoras do cotidiano. Nos dias em que me sinto grave, há a responsabilidade do mundo. Ela é a minha segunda pele, minha segunda natureza. Deus tudo acompanha. Administra o que nos meus olhos parece-se com a explicação derradeira sobre as coisas da vida. Deus lembra-me: haverá sempre mais...

Distração

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  Mania cabalística. A angústia do conhecimento. Será sempre este o problema... O conhecimento, mas também o mistério de existir. Deus deu-me o dom de pensar à respeito disso. O dom significa aqui o interesse. Sou um homem interessado na arquitetura do mundo e dos que nele existem. René Descartes, com o seu cogito ergo sum , parece que salvou Deus dos entusiasmados esclarecidos. Essa espécie de gente vê o mundo como curiosidade.  Também não me atrai o outro lado. O século XX vulgarizou tudo. Nele, reside uma culpa. Estou, então, como um lenho perdido, como dizem os versos de Luís de Camões. Esta figura já populou o meu pensamento, quando estava escrevendo algo. Algo sincero, algo verdadeiro, porque vazado de intenções. Aos vinte e oito anos escrevi apenas duas obras: a dissertação Caeiro-ângulos-Homero (2019) e o livro de poemas Minotauro (2019). Em ambos, comprei o ticket de viagem. À sério. Com muita dor na mente. Peguei-me nas mãos de Deus, mas também pedi ajuda aos deuses...

Estrada

O último movimento dá o tom. Por ele abre-se a estrada. E ela será aberta com um filete valioso. O amor. Escrevo por amor à humanidade. Caio na armadilha de traçar causas e consequências, condições e resultados. O substantivo "amor" deveria ter alguma complementaridade? Transitividade? Amor à humanidade? Ou dizer "amor" implica, sem expressão normativa, restabelecer, sempre, o objeto do sentimento que cada um pode definir como quer - e eu defino, agora, como a humanidade? Um abismo atrás do outro. Estou à altura de definir algo para o amor? Estou à altura de povoar a escrita com questões a que não terei como responder? A escrita por si só é uma resposta.  E há quem diga que a resolução está na própria forma da pergunta. A ideia até me agrada, porém é perigosa. Se pergunto "quem é você?", nossa língua não amarga. No "quem" há vida. Por força e por jeito gramatical. Mas se pergunto "o que é você?", minha consciência medra e me alerta: não...