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Mostrando postagens de outubro, 2020

Responder-me

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  Estou à margem de Deus. Fazendo o trabalho: ver, ouvir, sentir. Quando dou-me conta, a vida vem; em outro espanto, a vida vai. Quisera eu testemunhar tudo em silêncio. Não consigo. É uma maravilha, un espetáculo e no entanto Deus enche-me de fissuras. É a maneira pela qual ele me constitui. Vestido de vazios. Não me queixo. Não poderia dar-me o direito. Quero ao além o bem. O segredo deixa-me na boca a sua suave temperança. Lembro-me de mim com um ar paternal. Se tivesse mais cuidado com aquele menino. E entretanto eis-me aqui. Respondo-me pelo sentido.

Saldo

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Hora feliz... A do silêncio. Com os olhos abertos e, contudo, sem enxergar nada. Não confio nos sentidos. Confio no meu interior. Nele, há Deus. Mas não há como saber. Digo e crio. Digo criando. Conjugando-O e me conjurando. Estou sem informações sobre o mundo e,  entretanto, escrevo. Estou quase entregando tudo. Mas estou aqui. Estou quase no calafrio da piedade. Mas estou aqui.  Estou quase aos pés dele, o meu Senhor, a pedir que me dê outra vida. E estou aqui. Sou certamente um mal-agradecido. Para onde vou com tanta prepotência? Não há meios de me resignar? Vejo o outro com tão pouco e, entretanto, engole-me um monstro, engole-me um desejo. Ele se denomina a própria materialidade. Estou com frio. Eu estou aqui. Não enxergo absolutamente ninguém. Não dirijo mais o meu olhar. Estou perdendo os sentidos. O paladar vai-se embora. Não sinto falta do aroma. E tocar-me tem sido um desafio. Não conheço mais meu corpo. Não quero saber de outra coisa a não ser do meu espírito. Não p...